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MODUS OPERANDI

Era como se pudéssemos sentir as luzes das ambulâncias beijando nossas faces. Naquela noite, fria e escura, tudo o que conseguíamos ouvir eram as sirenes e as vozes da multidão que se aglomerava ao nosso redor em frente ao hall. O relógio, tão antigo quanto o próprio hotel, badalava às 23h30min, indicando que se passara mais de uma hora e meia desde que telefonei à polícia.

Um pouco antes de sair do banho, lembro-me de ter ouvido uma discussão e barulhos estranhos vindos do quarto ao lado, onde estava hospedado um homem alto e magro, na casa dos cinquenta e tantos anos. Ontem, por acaso, o encontrei sozinho e alterado no hall, enquanto segurava uma garrafa de uísque em uma mão e o telefone do hotel na outra. Os recepcionistas até se entreolhavam e riam da cena como se fosse algo normal, o que me fez pensar que talvez aquela não fosse a primeira vez.

 

Quanto ao barulho, tudo começou com um simples desentendimento que logo se tornou uma conversa acalorada. Não consegui entender muito bem o teor e nem distinguir quem falava o quê, mas claramente eram duas pessoas defendendo suas próprias verdades. O som das vozes foi aumentando, misturando-se ao som de objetos caindo e coisas quebrando, até que alguém gritou tão alto que pude compreender com extrema clareza:

 

‒ NÃO! PARE! EU TENHO FAMÍLIA!

           

E aí se fez um silêncio absoluto.

Eu, que nesse momento colocava minha roupa enquanto me esforçava para ouvir tudo, logo entendi que algo mais grave havia acontecido. Ouvi passos rápidos do lado de fora e o medo, então, começou a subir pelas pernas, passando pela espinha, até atingir minha nuca, fazendo-me relutar em abrir a porta do meu quarto. Minha mente, um tanto quanto imaginativa, criava mil e uma cenas de um crime horrível que poderia ter se passado no quarto ao lado. Mas meu senso de urgência e curiosidade falou mais alto e, mais do que depressa, eu já estava prostrada em frente à porta do quarto 323. Sentia minha testa escorrer, sem saber se era suor em forma de medo ou meu cabelo ainda úmido de um banho que mal consegui finalizar.

Mesmo que eu já tivesse imaginado diversas cenas horripilantes na minha cabeça, nenhuma delas conseguiu me deixar pronta para aquela que meus olhos, de fato, viam. O corpo de um homem jazia de bruços sobre um mar de sangue, com a cabeça ao pé da cama e uma das mãos sob o peito. Aproximei-me, aterrorizada e já gritando, confirmando que realmente se tratava do mesmo homem com o qual algumas vezes eu cruzara pelos corredores do hotel. Era o mesmo homem que ontem, alterado, gritava ao telefone. E, como que em uma cadência de eventos trágicos, ou mesmo uma harmonia de más vibrações, ouço um grito de pânico vindo lá de baixo: era mais um corpo. Era menos uma vida. Era outra vítima de um crime que marcaria para sempre a história do grandioso Dallas Hotel.

A partir daí tudo correu conforme manda o protocolo: carros de polícia e ambulâncias se aproximavam, enquanto todos os hóspedes eram convocados ao hall. Ninguém saía e ninguém entrava. O tempo parou naquele hotel e, dessa vez, nem me refiro às condições do prédio.

 

Aquele era o início do fim.

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Antes da Vida Passar

Hélio sempre deixou para depois os próprios interesses, negando a si mesmo a importância da própria existência. Agora, com seus setenta anos, decidiu largar tudo e rodar o Brasil pra conhecer o que há de melhor em cada canto.

Contava nos dedos o que ainda lhe restava de vida.

Hélio

suíte 176

Império

Paula

dona do hotel

Anos se passaram desde os tempos de ouro do Dallas Hotel. Paula já não era mais jovem e as coisas ficavam cada vez mais difíceis. Agnaldo, um de seus clientes mais fiéis, era também uma grande oportunidade de tirar o nome da sua empresa do buraco.

Parcerias que se firmam e se findam.

Fod4

Anderson

gerente

Gerenciar um hotel tão grande como o Dallas não é tarefa fácil e ter alguém tirando sua atenção deixa tudo ainda mais difícil.

Quão forte pulsa o coração por um amor antigo?

Aquário

Marcela

camareira

Marcela carregava consigo o fardo de ser quem é: sua história, sua família, suas escolhas. Buscava agora se redimir de seus próprios erros.

Estar ali era mais um deles.

Segundas Intenções

Robson

recepcionista

Robson conhecia cada canto do hotel como se fosse sua própria casa. Seus longos cabelos dourados e sua simpatia conquistavam tudo e todos.

Ninguém poderia imaginar quanta ganância se escondia por trás daquele sorriso.

042

Silvana

suíte 324

Silvana era uma dessas jovens determinadas, a quem a vida sorriu poucas vezes. Mudou-se a São Paulo há pouco tempo e ainda estava buscando o seu lugar.

Certa noite, enquanto se banhava, ouviu uma briga no quarto ao lado que acabou por ser tornar um dos piores dias de sua vida.

 

Estava no lugar errado e na hora errada. 

Dicotomia

Shirley

esposa de Carlos

Shirley nasceu em uma família bastante rica e arriscou tudo por amor. Casou-se com Carlos, ao contrário do que desejavam seus pais, e se mudou a São Paulo. Mal sabia ela do erro que cometera.

Apostou tudo no amor e colheu um fruto bastante amargo.

Algema

Adriano

suíte 298

O tempo parou para Adriano desde aquele término. Ainda que os últimos momentos nesse "relacionamento" tivessem sido nada tranquilos, ele queria o amor de Agnaldo e não mediria esforços para tê-lo. Coincidentemente, estava hospedado na suíte 298 na noite do crime.

Todo término é como uma faca de dois gumes.

Ainda Sinto o Gosto

Carlos

amante

Carlos, assim como qualquer jovem adulto do fim dos anos 90, carregava em si a ambição e o desejo de ser alguém. Casou-se com Shirley, mas amava o mundo. Trabalhava no Dallas Hotel há sete anos e, mesmo sabendo dos riscos de se envolver com os hóspedes, encontrava-se com Agnaldo nas noites em que estava de folga.

Deixou o coração falar mais alto e, de repente, tudo ficou em silêncio.

Já Era

Cláudia

esposa

Cláudia amou Agnaldo, seu marido, do primeiro dia até o último. Amava também o glamour, o status e o dinheiro que seu casamento lhe proporcionava. Se quem muito tem, muito quer, a mulher tinha tudo e ainda não lhe era o bastante.

 

Era uma sexta-feira, dia 13 de janeiro de 1995, quando descobrira a traição do marido. Coincidência da data ou não, aquele era o início de uma série de noites de azar que pairariam sobre o Dallas Hotel e seus hóspedes.

 

A partir dali, tudo começou a ruir como em uma torre de cartas.

Hotel

Agnaldo

suíte 323

Agnaldo era mais uma vítima de si mesmo. Um homem de meia-idade e meias-verdades, um exímio cidadão de bem. Traiu a mulher e acabou achando o que não queria.

 

Quantos segredos se escondiam debaixo de toda aquela pompa?

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